Rural
Uma safra de expectativas
Mesmo com uma produtividade ainda abaixo do esperado, colheita do pêssego pode ser maior do que a anterior
Jô Folha -
Iniciada no final de outubro, a safra do pêssego 2021/2022 deverá alcançar a projeção inicial de 50 a 60 mil toneladas da fruta colhidas na Zona Sul. Com isso, quase R$ 80 milhões devem circular na região. No entanto, do lado dos produtores, as variedades precoces não estão alcançando a produção esperada e o preço também acabou ficando abaixo do esperado. A expectativa é de que a situação melhore nas próximas semanas, quando começam a ser colhidas outras qualidades da fruta.
Responsável por 73% da produtividade, o Rio Grande do Sul é o maior responsável pelo fornecimento de pêssego do país. Segundo a Emater/RS Ascar, dos 16.101 hectares destinados ao cultivo da fruta no Brasil, o Estado possui 11.895 e 3.117 produtores, de acordo com o Censo Agropec de 2006 feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na fruta do tipo indústria, Pelotas se destaca como a maior produtora, com 2.700 hectares destinados a esse cultivo e 300 hectares para o do tipo mesa.
Conforme a Emater, nesta safra devem ser colhidos na Zona Sul de 40 a 60 mil toneladas de pêssego do tipo indústria. Por conta da quantidade, a entidade realiza uma projeção de movimentar mais de R$ 77 milhões na região, levando em consideração uma safra de 50 mil toneladas e o preço de referência de R$ 1,55 pago pelo quilo da fruta.
Produtores estão insatisfeitos
De acordo com o presidente da Associação dos Produtores de Pêssegos da Região de Pelotas, Mauro Scheunemann, as primeiras variedades precoces estão abaixo do esperado em relação à produtividade. Outro problema enfrentado é o preço pago pelo quilo da fruta, que também não alcançou o esperado. Pelo o pêssego tipo 1, com melhor qualidade, os produtores estão recebendo R$ 1,65 e para o tipo 2, R$ 1,45. Em relação à safra passada, o reajuste foi de 10%. "O preço deixa muito a desejar, tanto pela indústria, como o mercado in natura. A gente queria no mínimo R$ 1,80 para o tipo 1, pois os custos de produção subiram de 35 a 40%, então ficou bem abaixo do que o produtor esperava", explica.
Por conta deste cenário, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Agricultores Familiares de Pelotas, Nilson Loeck, conta que alguns produtores acabaram diminuindo a quantidade de áreas destinadas ao cultivo de pêssego e passaram a investir em outras culturas, como a soja.
Ele diz que o período de safra é uma época em que se busca mais mão de obra e geralmente produtores de outras culturas acabam trabalhando durante a colheita para fazer uma renda extra, enquanto sua lavoura está em desenvolvimento. Porém, ele ressalta que muitas propriedades trabalham no modelo de agricultura familiar, contando com a ajuda de filhos, cônjuges ou outros parentes. Loeck ainda explica que não é somente nesta época que a fruta gera empregos temporários. Há ainda etapas como a poda e o raleio, em que são necessárias mão de obra qualificada.
"A gente se vira como pode"
Na propriedade do Luís Carlos Portaniolo, 42, o desenvolvimento do pêssego de variedade precoce não alcançou o que ele esperava e agora aguarda um retorno melhor nas variedades tardias que serão colhidas a partir da próxima semana. "Se caso as previsões de chuva se confirmarem, faremos uma colheita melhor, talvez até mais do que o ano passado", comenta.
Há 20 anos no ramo, o produtor possui cinco mil pessegueiros espalhados por dez hectares. Na safra passada, cada um produziu em média 20 quilos de fruta e, para este ano, a expectativa é passar um pouco. Assim como os demais produtores, Portaniolo também lamenta o aumento no custo de produção e o baixo reajuste no preço pago pelo quilo da fruta - um acréscimo que segundo ele foi de apenas R$ 0,15 em relação à safra passada. "A gente se vira como pode. Precisamos diluir os impactos dos custos tentando economizar na nossa despesa, mas se cortarmos insumos podemos ter prejuízo mais para frente. A gente vai empurrando conforme dá", comenta. Ele explica ainda que do total de sua produção, 30% são destinados a comercialização in natura, que proporciona um retorno financeiro melhor e, com isso, é possível diluir um pouco dos custos.
Mesmo diante deste cenário, Portaniolo acredita que não terá prejuízos, pois seu trabalho é desenvolvido no modelo familiar e conta com a ajuda da esposa e de dois filhos, mas que no final poderá ter uma redução no faturamento. Porém, a satisfação pelo cultivo do pêssego é maior e ele diz não pensar em desistir do ramo. "Eu gosto muito de lidar com a fruticultura, vem a ser uma paixão e por isso que não troco", finaliza.
Impacto na indústria
Na região, ao todo 11 agroindústrias e fábricas conserveiras recebem a produção de pêssego. Segundo o presidente do Sindicato das Indústrias de Doces e Conservas Alimentícias de Pelotas (Sindocopel), Paulo Crochemore, a promessa era de uma safra melhor, porém a realidade é de muita fruta, mas com baixo rendimento dentro da indústria e uma produção 20% abaixo da expectativa. "Pelo volume de fruta ser maior, a gente está com a expectativa de uma safra igual a do ano passado, com o mesmo volume de latas produzidas. Não teremos um aumento, mas também não teremos redução", comenta.
Em relação às contratações, Crochemore diz que na próxima semana, quando a safra alcança o seu ponto mais forte, pois ocorre a colheita de variedades com maior produção, devem ser fechadas cerca de quatro mil contratações para esta safra.
Um evento dedicado à fruta
Começa hoje e vai até o dia 11 de dezembro a Quinzena do Pêssego. Durante o evento, além de uma banca fixa no largo do Mercado Público Central, estruturas itinerantes estarão espalhadas por vários pontos da cidade com a comercialização da fruta, tanto in natura, quanto em compota e outros derivados. A caixa com dois quilos de pêssego será vendida por R$ 10,00. O funcionamento dos espaços será diário - exceto a estrutura do Mercado, que não abre aos domingos - das 9h às 17h. Segundo o secretário de Desenvolvimento Rural do município, Jair Seidel, o objetivo da Quinzena é facilitar a comercialização do pêssego em todas suas formas, além de estimular o consumo. O titular da pasta diz que em Pelotas cerca de 30 mil toneladas da fruta devem ser colhidos. Deste total, 80% são destinados a indústria, 15% in natura e 5% à fabricação de produtos derivados, como geleias e sucos.
O secretário destaca ainda a relevância desta cultura para Pelotas, que na agricultura familiar é a mais importante e que durante a safra gera em torno de 15 mil postos de trabalho em todas as etapas - desde o campo até a industrialização. Já sobre a receita bruta, Seidel diz que por ano em Pelotas mais de R$ 200 milhões são gerados em função da cultura do pêssego. "A feira facilita o consumo da fruta a pessoas que ainda não têm esse hábito. Esperamos que ao longo do tempo tenhamos um crescimento da oferta do pêssego in natura, embora sejamos tradicionalmente produtores de compota, estamos trabalhando para aumentar a produção de fruta para mesa", finaliza.
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